quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

A História das Jornadas Mundiais da Juventude

Um convite e milhões de respostas

Roma, 1984. Mais de 300 mil jovens do mundo inteiro responderam a um convite. O anfitrião os havia chamado para o “Jubileu Internacional da Juventude”, no Domingo de Ramos. A celebração começou com a Via-Sacra no Coliseu seguida da Missa na Praça de São Pedro.

O evento teve uma acolhida impressionante e, nas vésperas do Domingo de Ramos, o anfitrião polonês, Karol Wojtyla, disse aos jovens: “Que espetáculo tão magnífico ofereceis, vistos desde este palco. Quem disse que a juventude de hoje não se interessa pelos valores?” Com essas palavras, o Papa João Paulo II entregou ao mundo um símbolo: uma grande cruz de madeira, que se chamaria mais tarde a “Cruz da Jornada Mundial da Juventude”. Era o início de uma grande jornada...

O ano da Juventude

As Nações Unidas declararam o ano de 1985 como “Ano Internacional da Juventude”. Ficou claro em Roma que deveria haver outro encontro dos jovens do mundo todo com o Papa. O tempo foi curto e trabalhou-se intensamente. Dessa vez, mais de 250 mil jovens responderam ao convite do Papa, comparecendo em Roma no Domingo de Ramos.

Uma semana depois do encontro com os jovens, o Papa anunciou que as Jornadas Mundiais da Juventude passariam a realizar-se periodicamente. Assim disse em sua mensagem pascal de 7 de abril: “No domingo passado, encontrei centenas de milhares de jovens, e a imagem festiva de seu entusiasmo ficou profundamente gravada na minha alma. Meu desejo de repetir essa experiência maravilhosa nos anos vindouros, e de criar dessa forma um encontro internacional da juventude no Domingo de Ramos, corresponde à minha convicção de que os jovens estão diante de uma missão cada vez mais difícil e fascinante: a de mudar os mecanismos fundamentais que fomentam o egoísmo e a opressão nas relações entre os Estados e de assentar novas estruturas orientadas à verdade, à solidariedade e à paz”.

A primeira Jornada Mundial da Juventude

Assim nasceu uma idéia feliz, que se espalhou pelo mundo. A Jornada Mundial da Juventude foi celebrada pela primeira vez, de maneira oficial, no Domingo de Ramos de 1986, em Roma. A partir de 1987 e depois, a cada dois anos, como regra geral, organiza-se a Jornada Mundial da Juventude em algum lugar determinado do mundo. Nos outros anos, celebra-se a Jornada Mundial da Juventude no Domingo de Ramos, em cada diocese.

Em 1987, os jovens foram convocados a Buenos Aires, onde 1 milhão de participantes escutaram as seguintes palavras do Papa: “Repito ante vós o que venho dizendo desde o primeiro dia do meu pontificado: que vós sois a esperança do Papa, a esperança da Igreja.” (...) Dois anos depois, 600 mil jovens foram em peregrinação à cidade espanhola de Santiago de Compostela, onde João Paulo II perguntou-lhes: “Por que vieram aqui os jovens dos anos 90, do século 20? Não sentis em vós o espírito do mundo?”

Depois da queda do Muro

Em 1991, 1,5 milhão de participantes participaram da Jornada no santuário mariano da cidade polonesa de Czestochowa. Depois da queda da “cortina de ferro”, essa foi a primeira ocasião em que os jovens do Leste Europeu puderam participar sem problemas do evento. “O Velho Continente aposta em vós, jovens da Europa Oriental e Ocidental, para construir esta ‘casa comum’ que deve contribuir para um futuro de solidariedade e de paz. (...) Para a prosperidade das gerações vindouras, é preciso que a nova Europa se baseie no fundamento dos valores espirituais que constituem o núcleo mais íntimo de sua tradição cultural”, disse o Papa.

Meio milhão de jovens encontraram o Papa João Paulo II em 1993, na cidade americana de Denver. Diante do impressionante cenário das Rocky Mountains, o Papa chamou os jovens: “Não apagueis a vossa consciência! A consciência é o verdadeiro coração e a parte sacrossanta da pessoa humana, onde se está somente com Deus... Não tenhais medo de sair às ruas e de dirigir-vos ao público... Não é hora de ter vergonha do Evangelho... Não temais abandonar uma vida confortável e acomodada e responder ao desafio de fazer Cristo conhecido na ‘metrópole’ moderna”.

O maior encontro de todos os tempos teve lugar em 1995, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude em Manila (Filipinas): 4 milhões de jovens aplaudiram o Papa que evocava a relação com o próximo: “Sois capazes de oferecer vós mesmos, vossas forças e vossos talentos para o bem dos demais? Sois capazes de amar? Sim, vós sois. A Igreja e a sociedade podem colocar grandes esperanças em cada um de vós”.

Em 1997, foram muitos jovens que responderam ao convite do Papa para a Jornada em Paris, que terminou com um evento reunindo quase um milhão de pessoas. Lá, João Paulo II deu um testemunho vivo aos jovens: “Vosso caminho não termina aqui. O tempo não pára no hoje. Saiam às ruas do mundo, às ruas da humanidade e fiquem unidos à Igreja de Jesus Cristo!"

O Jubileu das Jornadas

O Jubileu do ano 2000 converteu-se também no jubileu das Jornadas Mundiais da Juventude. Quase 2 milhões de jovens reuniram-se em Roma para estar com o Emanuel, Deus conosco, e ouvirem o chamado à santidade do papa: “Jovens de todos os continentes, não tenhais medo de ser os santos do novo milênio! Sede contemplativos e amantes da oração, coerentes com a vossa fé e generosos no serviço aos irmãos, membros vivos da Igreja e artífices de paz..”

A cidade canadense de Toronto foi o palco do encontro de 2002 onde 800 mil pessoas encontraram-se para a última Jornada com o peregrino João Paulo II. O Papa lembrou a todos que o espírito jovem é algo que não pode ser sufocado: “Vós sois jovens e o Papa é idoso, e ter 82 ou 83 anos não é a mesma coisa que ter 22 ou 23. Todavia, ele continua a identificar-se plenamente com as vossas esperanças e as vossas aspirações. Juventude de espírito, juventude de espírito! Embora eu tenha vivido no meio de muitas trevas, sob duros regimes totalitários, tive suficientes motivos para me convencer de maneira inabalável de que nenhuma dificuldade e nenhum temor é tão grande a ponto de poder sufocar completamente a esperança que jorra sem cessar no coração dos jovens.”

Em sua despedida o papa preparou os jovens para o encontro na Alemanha: “Na impressionante Catedral de Colônia veneram-se os Três Reis Magos, os órfãos do Oriente que se deixaram guiar pelas estrelas que os levaram até Cristo Jesus. Vossa peregrinação a Colônia começa hoje. Cristo vos espera lá para celebrar a 20ª Jornada Mundial da Juventude”. (...)

Com Bento e a benção de João Paulo

A Jornada de 2005, em Colônia, na Alemanha, foi a primeira com dois papas: um com os jovens em Marienfeld (Campo de Maria) e outro intercedendo pelo encontro lá do céu. Mais de um milhão de jovens se ajoelharam junto com Bento XVI na vigília de 20 de agosto, repetindo o gesto dos Três Reis Magos que saíram do Oriente para adorar o Emanuel.

O encontro mundial dos jovens seguinte com o sucessor de Pedro foi em Sydney, em julho de 2008, como o Papa Bento XVI anunciou: “eu estou feliz em anunciar que a próxima Jornada Mundial da Juventude ocorrerá em Sydney, Austrália, em 2008. Nós confiamos à maternal orientação de Maria Santíssima o curso futuro dos jovens de todo mundo”. A JMJ da Austrália não foi a maior de todas, mas encheu com a graça do Espírito Santo a sociedade australiana, muito marcada pelo ateísmo. Foi uma renovação na igreja local, vinda pelo Rosto Jovem do Corpo de Cristo!

Madri abre suas portas!

Pela primeira vez na história, um mesmo bispo será o anfitrião de duas Jornadas Mundiais da Juventude. O cardeal de Madri, Antônio Maria Rocco Varela, era bispo de Santiago de Compostela durante a JMJ de 1989, e agora se prepara para acolher na capital espanhola o Santo Padre e os milhares de jovens que irão se reencontrar com o Cristo na maior celebração da juventude que existe! Eu estarei lá, estou certo que você também irá!

in site: http://www.jmjbrasil.com.br/jmj/

postado por Onivaldo Dyna, pós-graduando em Juventude Comtemporânea

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

A PRÓXIMA DÉCADA NO CAMPO DA (IN)SEGURANÇA PÚBLICA

Luiz Eduardo Soares

(Publicado na Revista Época (27-dez-2010), que está nas bancas)
(Ver entrevista no Programa Roda Viva da TV Cultura no ultimo dia 29 de novembro de 2010:
http://www.tvcultura.com.br/rodaviva/programa/1232)

O que nos reservam os próximos dez anos? As principais tendências apontam para a nacionalização dos problemas, que deixam de ser exclusividade dos centros metropolitanos e se espalham pelo país. A epidemia das armas e, portanto, dos homicídios tem se deslocado para áreas de crescimento tardio mas acelerado, cujo desenvolvimento oferece oportunidades, ainda que o emprego para jovens continue exíguo. É o caso de cidades nordestinas e do Centro-Oeste ou do litoral fluminense, por exemplo. Se o petróleo deixou rastro de mudanças rápidas e desordenadas, aquecendo a violência (como em Macaé), o pré-sal pode intensificar esse fenômeno. As fronteiras tendem a ferver, sob a tensão dos tráficos, contrabandos e piratarias. Foz do Iguaçu é o caso emblemático. A questão do terrorismo se imporá por conta dos
eventos internacionais e também porque a precariedade de nossos controles atrairá grupos que, pressionados em suas regiões de origem, busquem um recuo tático.

Enquanto o tráfico de drogas, envolvendo controle territorial e domínio de comunidades, tende ao declínio porque é anti-econômico, além de desnecessariamente arriscado, o negócio das drogas continuará prosperando, em um formato nômade, mais leve e menos perigoso, como ocorre nas democracias mais avançadas.

A insuficiência dos salários pagos aos policiais continuará a empurrá-los para o bico na segurança privada, o que, sendo ilegal, obrigará as autoridades a conviver com o ilícito, para evitar demanda salarial e colapso orçamentário. Essa tolerância, ao gerar uma área de sombra, manterá fora do campo de fiscalização os policiais que se aproveitarem disso para provocar insegurança e vender segurança, ou para formar grupos de extermínio, ou ainda para se organizar como milícias. Tais máfias tendem, portanto, a uma expansão viral, estendendo tentáculos políticos e se infiltrando em outras instituições públicas.

O sistema político-eleitoral, como se sabe, estimula a corrupção. Nesse ambiente, os crimes de colarinho branco tem prosperado e tendem a avançar, porque as barreiras às ilegalidades, progressivamente derrubadas, abrem espaço para novas conexões entre distintos tipos de crime organizado, produzindo configurações mais complexas e ameaçadoras.

A homofobia parece ganhar força, na exata medida em que novos direitos se afirmam, suscitando reações perversas em grupos culturalmente vulneráveis aos racismos e preconceitos --o mesmo valendo para a violência de gênero e a brutalidade contra crianças. A praga do crack somada à nossa hipócrita política de drogas tendem a acelerar a criminalização da pobreza, no contexto marcado pela seletividade das ações policiais e pela profunda desigualdade no acesso à Justiça. O aumento veloz da população carcerária incrementará a degradação ainda maior do sistema penitenciário e jogará na carreira criminal mais e mais jovens presos por pequenos delitos não-violentos. A corrupção policial e a brutalidade letal, bases de sustentação de tantos crimes (a começar pelo tráfico de drogas), crescerão se forem mantidas as atuais estruturas organizacionais das polícias, refratárias à gestão racional e ao controle externo. A desvalorização da perícia, comum em boa parte do país, continuará reduzindo prisões ao flagrante e inviabilizando investigações.

As boas experiências em alguns estados, como as UPPs, e em vários municípios tendem a não se generalizar nem aprofundar, porque se realizam apesar do modelo policial e da arquitetura institucional da segurança e não graças a eles.

O que fazer para prevenir esse cenário? Sabemos que há necessidade de políticas multi-setoriais, porque os dilemas se inscrevem em diferentes dimensões da vida social, do emprego à educação. Vou me concentrar na área mais específica, avaliando o passado recente.

Os oito anos de Lula na presidência foram antecedidos pela divulgação de um plano nacional de segurança pública, que o primeiro mandato ensaiou implementar, mas optou por abandonar, e o segundo retomou, parcialmente, esvaziando-o das propostas mais ambiciosas e potencialmente geradoras de conflitos. O plano firmava o compromisso de propor ao Congresso que alterasse o artigo 144 da Constituição, transformando, assim, a arquitetura institucional da segurança pública, que priva a União de maiores
responsabilidades, exclui os municípios e condena as polícias estaduais à reatividade, à rivalidade, à repetição inercial de velhos padrões ineficazes e ilegais, ao voluntarismo espasmódico e ao descontrole. O modelo policial com duas meias polícias, a civil e a militar, impede a gestão racional, legalista e eficiente.

No segundo mandato, o ministro da Justiça, Tarso Genro, implementou o programa nacional de segurança com cidadania, destacando a prevenção e o papel dos municípios. Na secretaria nacional de segurança pública, Ricardo Balestreri criou a rede nacional de ensino em segurança pública, o mais bem sucedido esforço de qualificação dos profissionais da área. As reformas institucionais, entretanto, ficaram fora da agenda.

Impossível prever o que fará a presidente Dilma Roussef. Os governos federais –sem exceção-- têm se esquivado de enfrentar o desafio das reformas. Resta a pergunta: o Brasil, que já enfrenta tantos gargalos --infra-estrutura, educação, sistemas tributário e político--, suportaria o cenário prospectivo que expus? A próxima década parece começar sob o signo da falta de vontade política para dirigir e celebrar um pacto nacional supra-partidário em torno de transformações institucionais inadiáveis, na segurança. Por outro lado, a década promete avanços sociais e econômicos aos quais corresponderá a exigência de que as lideranças políticas (e a sociedade) encarem com mais coragem, lucidez e espírito público suas
responsabilidades. A pressão do processo histórico contra os gargalos ou nos
condena ao atraso e ao eterno retorno da violência ou nos força a encarar a
sério nossas debilidades para corrigi-las. Digo isso com otimismo, confiando
na potência criativa dessa contradição.

Postado por Onivaldo Dyna - pós-graduando em Juventude Contemporânea.